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A TENDÊNCIA É SUA AMIGA!

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Lucimar Antonio

Feliz por um lado, mas preocupado por outro? Ora, rentabilidade elevada não é garantia de tranquilidade? Certamente as últimas dos investimentos “referenciais” em renda fixa ainda não indicam que o seu ano será salvo. Certo ou errado? Em 2015, é possível falar num resultado assegurado? Esqueça. Rendimento garantido, em termos reais, nem na “poupança”. Os rumos de mercado ainda não permitem a sua acomodação, porém percebem-se perspectivas diferentes. Oportunidade: “gestão ativa, estratégia hábil”.

Nesta ocasião, o que se esperava era um contexto de expectativas tão conturbadas quanto àquelas do início do ano. O que mudou exatamente? Aliás, seu sentimento mudou com o novo contexto de mercado? Talvez a pergunta seja: qual contexto? É provável que alguns nem tempo tiveram para refletir sobre as recentes mudanças, cujas implicações salvaram, parcialmente, o desastre de mercado prenunciado no último artigo, embora essa “conta” tenha endereço certo: a sociedade em geral. Do ponto de vista econômico, “um mal necessário”, e do ponto de vista social, também. Uma hora ou outra haveríamos de pagar essa “conta”, que está a ser acumulada há vários períodos, conforme indicamos em outros artigos. Contudo, melhor que estender a carência de pagamento, é “financiarmos” tal encargo, quitar na competência devida, suavemente, sem “pedaladas” ou medidas criativas que empurram o problema para o futuro, em termos gerais. Economicamente, parou-se de “varrer a sujeira para debaixo do tapete”. Então, MUDOU. Em especial, observe-se: POLÍTICA FISCAL e CREDIBILIDADE, isto é, política econômica crível, real, inclusive política monetária, aparentemente num estágio de convergência: “até que enfim”.

Todavia, ressalta-se que se distancia do nosso foco as discussões pertinentes aos impactos sociais e os modos pelos quais se cumprem os ajustes econômicos. Uma análise de tal perspectiva econômico-social requer, na verdade, um desenvolvimento de aspectos mais abrangentes, num contexto holístico. Aqui, neste artigo, não se tem a intenção de expor qualquer opinião acerca de como distribuir os custos sociais de um “mal necessário” provocado por adequações econômicas, mesmo que em favor de mercados ou de investidores. O texto apenas esclarece que o referido acontecimento representa um benefício ao contexto de investimentos. Mesmo assim, caso haja interesse por parte de leitores, reserva-se tal possibilidade de análise e discussão, porém numa outra oportunidade. Logo, se existir uma certa curiosidade, envie uma mensagem para nós a ponto de ensejar o debate sobre o tema.

Ademais, registra-se um desabafo: QUÃO BOM É realizar UMA ANÁLISE em contextos menos distorcidos, de tendências e expectativas convergentes, mesmo que negativas. Nós, economistas e analistas em geral, estávamos com saudade desse ambiente. Muito OBRIGADO. Igualmente, isso vale para todos os gestores de recursos. Até então, não se tinha boas perspectivas nem para o curto prazo, nem para o longo prazo, ou seja, esperavam-se cenários ruins para o mercado de investimentos, agora e depois, sem convergência quanto a tendências, expectativas e, em especial, atitudes político-econômicas. Entretanto, o que mudou representa exatamente o que se espera de tais circunstâncias temporais: o longo prazo apareceu com uma tendência bem mais positiva, dada a aceitação e consolidação das perspectivas de curto prazo, bastante negativas em termos de inflação, juros, câmbio, produto e balança comercial. Em outras palavras, o desastre pode até ser reconsiderado no mercado de investimentos, perante o ambiente de oportunidades disponíveis, mas não o será para a economia num curto período de tempo. Frise-se: embora os últimos resultados obtidos em determinados ativos tenham sido bastante recompensadores, principalmente aqueles vinculados aos títulos públicos de longo prazo, é preciso avaliar o “outro lado da moeda” em tal contexto, ou seja, a referência de cada um: sua meta.

Nesse sentido, faz-se um alerta: no conjunto, há um desafio e tanto, pois para manter o seu equilíbrio atuarial e econômico será necessário, neste exercício, um resultado bem maior. Por quê? Em primeiro lugar, a inflação será alta e, mais que conceber isso analiticamente, agora, há o reconhecimento oficial dessa situação. Tal percepção deixou, então, de participar de um enredo de perspectivas antagônicas no mercado para compor uma realidade acomodada. Assumimos o problema. Esperávamos por isso há algum tempo. Se sua meta atuarial, por exemplo, está fixada em IPCA mais 6% a.a., não se pode esperar que altos rendimentos representem uma garantia para o seu resultado, pois talvez seja preciso chegar perto de uma rentabilidade de 15% no ano para atingir tal meta. Será que não? Achou fácil? Se fizermos uns cálculos simples veremos que é desafiador. Dessa forma, em segunda instância, conhecendo a dinâmica de mercado, tenha atenção com o “efeito bidimensional” da pressão inflacionária: meta atuarial maior e menor, poder de financiamento de longo prazo; e esperança de elevação de juros com impacto negativo no desempenho de ativos com componentes pré-fixados, bastante presentes nos portfólios de investidores institucionais.

Vamos, então, tentar caracterizar um pouco melhor o contexto. Antes, o que se via era um cenário incerto e desfavorável no curto e no longo prazo. As tentativas de uma administração de curso forçado das expectativas, na esperança de configurar um cenário positivo, causavam sua própria deterioração, o que não proporcionava muitas alternativas estratégicas de investimentos. Pense-se: se existiam indícios de uma situação bastante complicada no curto prazo, apesar da nada convergente política econômica, haveria então, consequentemente, um crescimento de riscos iminentes no presente, proporcionais às incertezas instauradas. Melhor estratégia nessas condições: aversão ao risco. Da mesma forma, a falta de alinhamento de curto prazo ainda transferia diversas incertezas para o longo prazo. Em síntese, sem condições macroeconômicas de assumir riscos em fatores de renda fixa e, em tal contexto, outrossim, bastante arriscadas as opções acerca da renda variável e outros, ainda que representasse aparentemente uma oportunidade e tanto para rendimentos extraordinários. Agora, com as recentes mudanças, de forma alternativa, emerge outra perspectiva: o longo prazo, de tal modo que as circunstâncias, no curto prazo, como mencionado, parecem não registrar grandes oportunidades.

A realidade atual, com razoáveis expectativas, não apresenta muitas alternativas estratégicas, apesar de exibir uma melhor combinação de opções em relação ao início de 2015. Uma delas, assumir uma postura mais conservadora e, certamente, não convergente com a meta de curto prazo nos termos abordados. Outra, talvez, acompanhar a incipiente tendência de longo prazo e incorrer em um pouco mais de riscos, com chances, porém, de auferir um desempenho bastante favorável, mas com maior RISCO. Se esta for uma verdade, não poderíamos dizer outra coisa se não, neste caso, A TENDÊNCIA É SUA AMIGA. Uma oportunidade que requer, distintivamente: “gestão ativa, estratégia hábil”.

Por ora, parece definitivo o reconhecimento das dificuldades econômico-produtivas internas. O que ainda era tratado com dúvidas, agora apresenta uma tendência de curto prazo consensual. A atividade econômica brasileira passará por um período desfavorável e, associada ao desempenho produtivo internacional, influenciará determinantemente os rumos da política econômica interna. Monitore-se. Cabe sublinhar, ademais, que, coincidentemente, esse cenário de maior credibilidade e sensível acomodação de expectativas emergiu no instante de transição da equipe de política econômica do País. Um componente revigorado, nesse ínterim, como pode ser percebido, trata-se da credibilidade. Embora a consequência disso recaia na descarga de um custo social acumulado, a troca de uma postura de remediação momentânea por atitudes austeras contextualizou um cenário de maior confiança, diminuindo a deterioração das expectativas, da mesma forma que colocando em evidência o que era bastante indagado, a estratégia com relação ao modelo macroeconômico adotado para atingir o crescimento e o equilíbrio. Ao fim e ao cabo, como citado no último artigo: há que se considerar os fundamentos e “como na maioria das vezes chega a hora de enfrentar a ‘vida de frente’, a realidade”.

Dessa vez, a história, desde o nosso último encontro, mudou consideravelmente. Uma das indagações nossas era: “manter o plano ou reavaliar a situação?” Certamente, dadas às mudanças destacadas, a resposta é quase que certa: reavaliar, isto é, revisar as estratégias de acordo com as novas perspectivas. Assuma a sua posição estratégica. A conjectura esperada é consequência, especialmente, da mudança de atitudes que se originaram a partir da nova condução da política econômica: mais convencional e áustera. Era uma postura pouco esperada, duvidosa, porém já bastante consistente, dadas as circunstâncias e ações tomadas. Os impactos políticos e sociais dessa emergente conduta político-econômica podem exibir resultados divergentes, porém para um equilíbrio econômico de longo prazo e também para os mercados, especialmente o mercado dos investidores institucionais, segundo o seu perfil de investimentos, em termos gerais, a conjuntura e a postura atual tendem a exprimir um benefício muito maior que quaisquer prejuízos possíveis. Não é de costume que se ressalte o perfil individual de personalidades políticas na “seara” de nossas análises, porém cabe citar um personagem que tem se destacado nesse processo delineado: o Ministro da Fazenda Joaquim Levy. A realização de uma análise sobre sua participação e contexto pertinentes à dinâmica econômica instaurada não seria nada improdutivo. Entretanto, deixemos mais esta oportunidade de debate para os nossos próximos encontros.

Para finalizar, voltemos à indagação inicial deste artigo: “feliz por um lado, mas preocupado por outro?”. O segundo termo da frase já tivera sua explicação. Quanto ao primeiro, basta que se observe os desempenhos recentes dos IMAs. A rentabilidade do IMA-Geral, cerca de 2% em abril, representou um resultado importante no ano, de tal modo que, coerentemente com o que se explicitou neste artigo, um dos seus componentes, o IMA-B 5+, títulos de longo prazo, fecharão o mesmo período com um ganho de 4% aproximadamente. No conjunto, abril foi o mês da salvação, exprimindo uma situação até aparentemente tranquila, de forma isolada. Contudo, se analisado o “outro lado da moeda”, então vê-se que a situação não está tão confortável assim. Mais ou menos desse modo: soma, leva a valor futuro para o restante do período e divide por doze, o seu compromisso, isto é, a sua meta. Qual resultado você encontrou? Fácil ou difícil? Deve ser algo próximo dos números descritos anteriormente. Finalmente, apesar de deixarmos de lado os aspectos externos desta vez, é prudente monitorar questões que envolvam o cenário internacional, um possível enfraquecimento da economia chinesa, além da expectativa de alta de juros nos EUA, dentre outros. Muito mais teríamos a falar, mas precisamos nos despedir, agora. Tenham boas reflexões com o artigo. Até a próxima.

  1. Caros gestores, dirigentes, conselheiros e interessados em geral, concluímos mais um artigo deste conjunto de publicações da Revista RPPS do Brasil, o qual pode ser adotado como mais um mecanismo de gestão dentro do seu RPPS. Para enriquecer este novo projeto, é possível que qualquer interessado envie sugestões, indicações, comentários e críticas para o E-Mail de Lucimar Antonio: econ.luantero@gmail.com. Um dos princípios definidos para as publicações é a continuidade, isto é, a coesão do trabalho ao longo do tempo. Por isso, acompanhe as edições da Revista RPPS do Brasil e mantenha-se atualizado, bem como desenvolva juntamente com o Brasil competências e habilidades que serão construídas em conjunto com outros profissionais através deste espaço.
  2. ANÁLISE DO GESTOR representa o conjunto de artigos voltados para o mercado financeiro e de capitais relacionado aos RPPSs. A cada edição da Revista o leitor poderá acompanhar os temas e as novidades propostas e discutidas pelo autor e outros profissionais em conjunto com personagens dos próprios RPPSs. Estas publicações destinam-se aos gestores e dirigentes, e também ao público em geral que tenha interesse sobre o assunto. A intenção é construir um canal de Informação& Comunicação através da Interação&Aprendizado com o desenvolvimento de reflexões sobre o processo de gestão de investimentos destes investidores, de modo que a continuidade do trabalho possa contribuir, ao longo do tempo, para o resultado dos leitores no desempenho de suas atividades como gestores, conselheiros ou interessados. Dessa forma, o objetivo é proporcionar elementos específicos e atuais de reflexão e orientação acerca dos investimentos e da governança dos RPPSs. Estabelecer um canal de Informação&Comunicação com o público alvo e receber sugestões, indicações, comentários e críticas. Promover a evolução do trabalho através da interação e do contexto específico de mercado. Manter a continuidade e a coesão dos artigos para oferecer uma capacitação acumulada aos interessados. Assim como envolver gestores de investimentos de RPPS espalhados pelo País através de suas próprias iniciativas ou por meio de convite. O autor preza pela qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe, ressaltando, no entanto, que não faz qualquer tipo de recomendação de investimento, não se responsabilizando por perdas, danos (diretos, indiretos e incidentais), custos e lucros cessantes.
  • Lucimar Antonio & Equipe
  • Mestre em Economia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, aderente às linhas de pesquisa em Mercado Financeiro & Investimentos; Gestão & Estratégia; Inovação & Competitividade. Bacharel em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle. Certificado junto à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – ANBIMA. Membro do Conselho Editorial da Revista RPPS do Brasil (Nacional). Gestor de Investimentos de Regime Próprio de Previdência Social. Avaliador do Sistema de Avaliação do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade – PGQP. Consultor de Valores Mobiliários credenciado junto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Consultor de Investimentos. Professor do Programa de Pós-graduação do Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha – CESUCA no Estado do Rio Grande do Sul (Mercado de Capitais e Controladoria Estratégica Avançada) e do Curso de Graduação em Processos Gerenciais (Atualidades Econômicas).

 

 

 

 

Lucimar Antonio