Movimentos de senoide têm sido uma constante nas economias nos últimos anos, na verdade nas últimas décadas. Economistas dizem em uníssono que esses movimentos de sobe e desce são resultados da dinâmica das economias, não sendo exclusividade de um ou outro país, mas presente em todos. Entretanto, a duração e a intensidade desses ciclos variam de economia para economia, impactando o mercado e o bem-estar dos agentes.
Tecnicamente falando, os ciclos econômicos são movimentos do Produto Interno Bruto – PIB de um país em torno daquilo que é considerado seu produto potencial. Esse, por seu vez, é determinado por fatores relativos à produtividade, qualidade do governo e do ambiente contratual e de negócios, eficiência na alocação de recursos e qualidade das políticas econômicas, ou seja, a capacidade de crescimento sustentável de um país (crescimento sem gerar pressões inflacionárias) é determinada por quão bem se combinam os fatores “capital” e “trabalho” e pela capacidade estabilizadora do governo.
Imaginemos então um país cuja combinação desses fatores sugira que sua capacidade de crescimento sustentável seja de 3%. Variações do produto abaixo desse patamar indicam uma performance inferior ao potencial, assim como, de forma análoga, taxas de crescimento do produto corrente superiores a 3% indicam crescimento acima do potencial. Variações em torno do produto potencial denotam desequilíbrios na economia, com impactos na riqueza dos países e, consequentemente, no bem-estar da sua população. Esses impactos se dão, basicamente, através de uma menor oferta no mercado de trabalho (decorrente da ociosidade da capacidade instalada), e aumento no nível de preços (decorrente da demanda sobrejacente).
A correção desses desequilíbrios cabe aos governos através da implementação de políticas econômicas, que se dão no âmbito fiscal, monetário, cambial e através de políticas de renda. Quando a atividade está aquém do potencial, cabe ao governo, dentro das suas limitações e avaliando os impactos, estimula-la através de políticas econômicas expansionistas – aumento dos gastos do governo, diminuição da tributação e da taxa de juros, incremento no programa de transferências, entre outros. Da mesma forma, quando a atividade está além do potencial, cabe ao governo atuar no sentido oposto, com políticas econômicas contracionistas.
Já que esses movimentos são inerentes e comuns há muito tempo, qual o problema com eles? Na verdade, o problema não está na existência de movimentos em torno do produto potencial, mas sim no período de duração desses ciclos e na sua intensidade. A dinâmica da economia, além do descompasso entre a tomada de decisão de política econômica e sua efetivação, faz com que seja inevitável que o produto flutue em torno do potencial. Entretanto, quanto mais curtos e intensos forem esses movimentos, maior a incerteza dos agentes com consequente impacto negativo no mercado financeiro. Incertezas nos âmbito econômico e político impactam os preços dos ativos, aumentando a volatividade do mercado, e dificultando a decisão de alocação dos que dele participam.
Trazendo essa discussão para mais próximo da realidade dos investimentos dos RPPSs, tomem como exemplo a dinâmica da taxa de juros.
Quando a conjuntura está favorável, há um afrouxamento da política monetária com consequente redução da taxa básica de juros, costumeiramente seguida por um ajuste nas expectativas. Nesse momento, os ativos prefixados e indexados a índice de preços se valorizam, impactando positivamente a cota dos fundos cujas carteiras sao compostas por esses. A discussão que se segue diz respeito às alternativas de investimento para atingir a meta atuarial em um cenário de taxa de juros mais baixa, em que as alternativas de renda fixa “tradicionais” deixam de ser triviais.
As alternativas que despontam no horizonte, como não podia deixar de ser, são as que têm relação com o setor real da economia. O motivo é simples: com os agentes reagindo a incentivos, uma taxa de juros mais baixa aumenta a propensão a consumir, aumentando a necessidade de investimento das empresas, o que fomenta o mercado de bens, serviços e ativos reais.
O problema é que, caso não haja responsabilidade quando das decisões de política econômica e, principalmente, não sejam feitas reformas estruturais nos pilares que determinam a capacidade de crescimento sustentável da economia, o ciclo econômico de expansão do produto será curto, e políticas contracionistas terão que ser implementadas. A dinâmica observada quando da queda na taxa de juros é a mesma nesse novo cenário, só que em sentido oposto, com impacto negativo para o setor real da economia.
A falta de reformas estruturais faz com que os ciclos econômicos sejam curtos e intensos. No jargão de mercado, a economia faz “voo de galinha”, e a queda tem sido cada mais dolorosa. Por esse motivo, é importante observar, além da conjuntura, os fatores estruturais e a agenda de reformas.
A realização de reformas estruturais é fundamental para o crescimento sustentável, com impacto positivo no período de duração e na intensidade dos ciclos econômicos. Ciclos mais longos e menos intensos significam ativos melhor precificados, mercado menos voláteis, e menos incerteza na alocação.
Daniel Sandoval
Mestre em Economia
E-mail: dbsandoval@gmail.com
Professor de Economia, Mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-SP, possui MBA em Mercado de Capitais pela FIPECAFI-USP e pós-graduação em Administração de Empresas com ênfase em mercado financeiro pela Fundação Getúlio Vargas – FGV-SP. Possui certificação Certified Financial Planner
– CFP® pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros e Certificação de Especialista em Investimento Anbima – CEA.
dbsandoval@gmail.com